quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Os Cavaleiros Literatos


Olá pessoal. Na Men’s Health desse mês de agosto, encontrei uma matéria muito bacana e não poderia deixar de comentá-la. “Não vai ter para ninguém” foi escrita por Dagomir Marquezi e fala de quatro grandes conquistadores: Don Juan, Romeu Montague (ou Montéquio), Cyrano de Bergerac e Giacomo Casanova. O objetivo da matéria era apresentar a arte de seduzir desses quatro mestres… Como não posso ver quaternidades que já tento relacioná-las com a Cartomancia, dessa vez vi nesses quatro exemplos os quatro Cavaleiros.

O Cavaleiro está presente em três baralhos que conheço: no Petit Lenormand é a carta 01; no Tarot e no Baralho Espanhol, temos quatro – um para cada naipe. A idéia de Cavaleiro nos remete à impetuosidade, à liberdade, à alegria de viver, ao direcionamento, à volatilidade, à jovialidade... características do elemento Fogo. Em alguns baralhos, sua dimensão instável e irrequieta é relacionada ao elemento Ar – mas carecem da reflexão e frieza que a mente possui e representa.
Para os baralhos que possuem Cavaleiros para cada naipe, teríamos:
Don Juan

Cavaleiro de Paus


Don Juan de Marco é um personagem lendário que seduzia sem nenhum pudor suas vitimas, encarando quase que como uma ciência – empírica, evidentemente – a sedução do gênero feminino. Sua história possui diferentes versões, sendo inclusive tema de uma composição de Mozart. Eu inclusive estou lendo um romance baseado no lendário personagem, este escrito na década de ’30, para me ambientar com a complexidade da psique desse homem-mito.
Segundo a lenda, Don Juan, após diversos sucessos amorosos, é arrastado para o Inferno pelo fantasma do pai de uma das moças que outrora desgraçara. Contudo, ao invés de ser ver danado pelas chamas, vejo que tornou-se Cavaleiro delas. Entre as chamas, o Cavaleiro de Paus nos abre a possibilidade de servirmos a nossos próprios desejos. Se isso é adequado ou não, moral ou não, “certo” ou “errado”, cabe à nossa consciência decidir. O importante é perceber que o calor emanado por este personagem não passa incólume, não deixa nada nem ninguém sem a marca de sua passagem. Seu objetivo é sexual, não sentimental – Fogo sobre Fogo sem marcas de Água. Não mede esforços para satisfazer seus desejos, o que satisfaz (ao menos sexualmente) suas parceiras também. Mas nada além disso.

Romeo Montague (Montéquio)

Cavaleiro de Copas

Não há quem diga que este não é o amante por excelência. Romeu & Julieta é, se não o mais sublime, o mais conhecido de todos os textos de William Shakespeare, se não a história de amor mais comentada de todos os tempos. Seu amor é único, intransferível, indissociável do objeto do seu desejo. Como Cavaleiro de Copas, o olhar de Julieta foi um raio de sol que, atravessando o cálice do seu coração, refletiu de maneira prismática todas as formas que o amor pode assumir. Através do amor de uma única mulher, Romeu conheceu o amor de todas as mulheres do mundo.
Respeitando sua atribuição ao Fogo sobre Água, sua morte dá-se por veneno, pois não suporta a idéia de viver sem sua contraparte. Mas torna-se eterno por seu gesto, eterniza a si e ao seu amor. O amor de um Cavaleiro de Copas jamais deveria ser posto em segundo plano, pois ele vive em função deste amor.

Cyrano de Bergerac

Cavaleiro de Espadas




Este Cavaleiro ama em silêncio. Não por timidez, mas por falta de parâmetros que lhe mostrem como agir, como se portar quando as palavras perdem o sentido. Carece da aprovação de sua amada, carece de seu posicionamento – por vezes, até mesmo de sua iniciativa.
O Cyrano a que nos referimos aqui é o personagem da peça de Edmond Rostand, de 1897. Sua coragem, já que é Fogo, é invejável; mas sua aparência física (segundo a descrição, era incrivelmente narigudo) impede que declare seu amor para sua amada Roxanne, pois em seus parâmetros lógicos (posto que também é Ar) não consegue conceber que tal beleza pudesse se apaixonar por ele. Sendo assim, escreve poemas, que cede a Christian, seu amigo, que através de tais poemas a conquista.
Cyrano descobre tarde demais que poderia tê-la conquistado com seus poemas – na hora de sua morte, adormece para o sono eterno no colo de Roxanne, que havia descoberto que os poemas que a embalaram foram de sua autoria.


Giacomo Casanova

Cavaleiro de Ouros

Para este caso, eu realmente tive que refletir se era aplicável o personagem ao Arcano Menor que lhe destinei. Pois, normalmente, o Cavaleiro de Ouros representa um homem simples, quase simplório – o que, definitivamente, não corresponde à refinada figura de Casanova (não tem como eu pensar nesse personagem sem me lembrar da interpretação de Heath Ledger... Um ator que nos deixou saudade, além de grandes interpretações).
Contudo, o naipe de Ouros não representa apenas o prático, o simplório, o rústico; aqui também temos a área das sensações físicas – o prazer de uma boa mesa, uma música agradável, o amor… dentro da dimensão das sensações corporais e das respostas que o corpo oferece a elas.
O fato de ter escrito suas memórias também nos serve de parâmetro para o naipe de Ouros. A sedimentação de um conhecimento acumulado não pelos livros, mas pela experiência sensorial das aventuras que podem ser vividas por um (corajoso) homem.
Em uma consulta, tanto veremos este homem ambíguo como um amante dos prazeres sensoriais, do envolvimento afetivo sem palavras, como a clássica representação do homem que não se apraz com tais envolvimentos, sendo prático e objetivo em suas conquistas.


Outros baralhos

Como já disse anteriormente, não tenho prática com o Baralho Espanhol (ainda :)). Mas é interessante ver que, não possuindo figuras femininas, as figuras masculinas do baralho passam a ser ambíguas – representando muito mais qualidades psicológicas do que atributos físicos. Realmente este baralho precisa ser melhor estudado aqui no Brasil – a COPAG possui uma edição muito legal desse baralho, mas creio que deva ser utilizada para o Truco, não pra divinação. De qualquer forma, manteria a relação entre os personagens e os naipes.
No baralho Petit Lenormand, por sua vez, o Cavaleiro é a carta 01 e tem por correspondente no baralho comum o nove de Copas. Representa notícias, envolvimento, comprometimento, ação, sexualidade. Claro está que por vezes misturamos os conceitos de cavaleiro e cavalheiro, dando uma pincelada de refinamento a este homem. Mas seu movimento não permite que se dê à salamaleques por tempo em demasia; outros lugares há para se conhecer, outras pessoas há que se desvendar.
Os quatro nomes supra relacionados poderiam ser facetas, aspectos da relação entre a carta 01 e os quatro Valetes, que representam homens jovens: sugiro Valete de Copas (24) para Romeu, Valete de Paus (11) para Don Juan, Valete de Espadas (13) para Cyrano e Valete de Ouros (10) para Casanova.

Espero que gostem. Abraços e até o próximo post.

2 comentários:

  1. Emanuel,
    tomei a liberdade de linkar seu excelente artigo em meu mais recente blog: "tarosfera.com".
    Muito gosto me dará sua opinião.

    Desde já obrigado!

    ResponderExcluir
  2. Muto obrigado pela citação, eu só vi agora, e isso encheu meu dia de alegria. Um grande abraço!

    ResponderExcluir

Quando um monólogo se torna diálogo...