quinta-feira, 26 de julho de 2012

Dia dos avós. Cartomancia. E saudade.



Vinte e seis de julho, dia dos avós. Homenagem a Sant'Ana, mãe da Virgem. Aquela que foi capaz de acreditar até o fim na maternidade.
É curioso pensar no que é ser avô/avó na idade em que estou. Um quarto de século, mais um - vinte e seis. Mas, frente às gravidezes cada vez mais prematuras, não é difícil imaginar um avô de trinta anos. Mas a imagem permanece sendo de alguém que já enfrentou um bocadinho de aventuras nessa vida... e sobreviveu para contar.
É difícil para mim, esse ano, comemorar essa data. Minha avó materna achou que o corpo dela estava démodé demais e resolveu trocar de roupagem. Não dá para dizer que não dói. É um buraco na vida da gente que a gente não é preparado para cavar. Ainda que seja a única certeza da vida, a gente sempre espera que não seja tão certo, assim.

Sacerdotisa
Marseille-Grimaud

No Tarot, a carta que mais se aproxima, entre os Arcanos Maiores, da experiência de ser avó é a Sacerdotisa. Curioso que ela é a Virgem; mas é uma virgindade que se obtém, também, depois da menopausa - um novo ciclo hormonal na vida da mulher que pede os mesmos cuidados que pós-menarca. E a sabedoria que ela possui é obtida também da observação - um de seus conceitos - e, para observar, há que se ter tido tempo para isso.

Rainha de Ouros
Marseille Grimaud

A Rainha de Ouros também tem muito de avó - ela já experimentou no corpo o que é o ditame do espírito, e sobreviveu para contar a história. Sentimentalismos não mais a comovem. Mesmo porque, ser avó é ser mãe já conhecendo o script. Não há mais surpresa nem susto, há um reconhecimento de que aquela semente é fruto da semente que ela teve a habilidade de criar.
Velha Senhora
Sibilla della Zingara

Já conhecendo o script, por que se estressar? Por que se preocupar tanto? Avó é conhecer os netos pela parte que lhes cabe, que é carinho e afeto. É ensinar coisas que vão ser tão anuviantes nos momentos de saudade, como barquinhos de papel com capota e jogos de paciência vários. É deixar os cinco sentidos atiçados com aquele cheiro de bolinho de chuva saindo do fogo, com direito a tapa na mão dos mais afoitos. 
É uma ternura sem tamanho, mesmo nos xingos. A gente sempre sobrevive ao xingo de mãe, mas dói o xingo de vó. Claro que existem as avós que não são lá flor que se cheire; cravo de defunto também não é para cheirar, mas ainda assim ornamente o jardim. Mesmo lá de longe, é vó.

Feliz dia das avós, àquelas que tiveram a sorte de ser. E feliz dia para aqueles que ainda podem curtir seus avós. Eu tô aqui tentando encher esse buraco, mas ele tá tão forrado de ternura pelo que eu vivi com a minha, por ela ter me tornado o homem que me tornei, por ela ter colocado um baralho na minha mão tão na hora certa, mesmo parecendo que não... Que acho que esse buraco só vai durar pelo resto da minha vida.
Obrigado, vó. Vivo com você para sempre, aninhada aqui no meu peito como eu costumava me aninhar no seu.
Abraços a todos. E aproveitem seus avós, porque a Morte não costuma aceitar reclamações e nem oferecer justificativas para os seus atos.



2 comentários:

  1. Graça a Deus pude conviver nessa vida com avós maravilhosos! Cada um a sua maneira, mas que sempre deixarão uma marca muito mais que positiva na minha vida, no meu coração.Excelente post, e viva essas poderosas Sacerdotisas!

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  2. Olá, Emanuel
    Tenho tanta saudade da minha vó materna!!
    Como ela era maravilhosa!!!
    Deus te cubra de bênçãos e e te faça feliz!!!
    Abraços fraternos de paz

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