Olá pessoal. Mesmo me sentindo um Oito de Paus, não poderia deixar de publicar essa resenha, mesmo sendo aos 49’ do segundo tempo, evitando o golden gol. Hehe. Desde que entrei no desafio literário penso em como escreveria esse post, já que ele é, intrinsecamente, relacionado à cartomancia.
Sei que, ao afirmar isso, estou deixando diversos pontos de interrogação na sua cabeça. “Ué, mas cartomancia relacionada ao vampiro mais famoso de todos os tempos? Como?”
Vou tentar responder. ^^
A história narra a viagem de Jonathan Harker, um jovem advogado, para a Transilvânia, com o intuito de visitar um cliente, Conde Dracula. Nesse ínterim, Jonathan descobre que o dito conde esconde um sangrento e terrível segredo. Como destruí-lo antes que ele destrua seu mundo, seus familiares e ele mesmo; eis o desafio de Jonathan no desenrolar do livro.
A estrutura textual da obra é assaz interessante: são cartas, bilhetes, o diário de Jonathan, se intercalando e permitindo ao leitor que estruture as constatações dos personagens por sua própria conta. Não somos observadores da história, mas intervimos diretamente no desenrolar do fio que a norteia, de acordo com nossa perspicácia ao relacionar os dados. Foi muito interessante, para mim, seguir o enredo, pela minha profissão – historiador – lidar exatamente com isso: através de fontes documentais, estruturar um passado a partir dos elementos factuais que o norteiam no tempo e no espaço.
O autor, Abraham Stoker nasceu em Dublin (uma cidade de pensadores, sem dúvida), em 1847. Publicou Dracula em 1987. O que nos é interessante, na biografia de Stoker, é o fato do mesmo ser citado como um dos membros da famigerada Ordem da Golden Dawn (G.’. D.’.). Esta Ordem, que também possuiu como membros Arthur Edward Waite e Aleister Crowley, tinha como eixo o estudo de temas místicos, correlatos com o Tarot, sobretudo a cabala. Saber que Bram Stoker participou desse círculo de estudiosos indica que o mesmo conhecia as cartas. Talvez as jogasse – Who knows?
Por sua vez, o tema abordado – o vampiro – já é algo que habita o imaginário ocidental há muito tempo. Desde a publicação desta célebre obra, diversas releituras foram feitas, tanto na literatura quanto em outras artes. O vampiro, morto-vivo, demônio, sedutor, invencível em sua luxúria, é, ao mesmo tempo, sedutor e medonho; a ambição de viver para sempre, e a maldição de nunca mais viver, coexistem no ser que, por sua maldição pode usufruir do desejo de muitos dos mortais – transcender os portões das gerações, quiçá do tempo. O mito em si se refere a um personagem real – Vlad Tepes, o empalador.
Como é algo assaz conhecido, não me estenderei muito nesse ponto. Dracula, por sua vez, vem de Dracul, dragão, o monstro do Apocalipse. O sinal do Fim dos Tempos.
Seu alimento, o sangue, é a seiva vital, a portadora da vida, que possui um poder mágico latente à mesma. Pactos de sangue, sacrifícios rituais, desde a aurora dos tempos a humanidade troca a vida de um pelo bem estar de todos. Por vezes bode expiatório – conforme vemos no Diabo do Tarot – por vezes Deus Feito Carne. O poder do sangue garante que a Tradição permaneça e que o planeta siga sua órbita pré-determinada.
Atualmente é raro termos notícia de rituais de sangue (pelo menos no meu círculo ^^). Outras formas de ampliar o poder, mais sutis e delicadas frente à violência da morte, são usadas para a transformação dos fatores inerentes aos eventos.
Das versões do mito contemporâneas, sem sombra de dúvida as crônicas vampirescas de Anne Rice estão entre as melhores, sendo inclusive fonte para o posterior desenvolvimento do RPG Vampiro: a Máscara. A psicologia do monstro é sutilmente realçada em detrimento do terror que ele causa; suas motivações estão à frente de seus pudores. Quem ainda não leu, mas assistiu Entrevista com o Vampiro, pôde perceber a diferença entre Louis e Lestat, e a diametralmente oposta forma de agir deste comparada à de Armand. O monstro mítico é o mesmo, mas sua forma de agir é sedutoramente tripartida entre os três. E o que dizer da pequena, mas não menos demoníaca, Claudia?
O jogo da White Wolf explora esse aspecto, dividindo as personalidades em 13 clãs, com vantagens e fraquezas em relação aos outros, explorando todo o universo criado ao redor de Conde Dracula.
Nos games, temos a série Castlevania. Gerações de caça vampiros se alternam na inglória tarefa de adormecer o conde por mais cem anos.
Na versão para Playstation 1, uma supresa: Alucard (suuuuper criativo o nome, não?), o filho do conde, decide enfrentar o pai. Ironicamente, ele pode usar uma cruz.
No Brasil, tivemos as novelas Vamp e O Beijo do Vampiro. Acompanhei a primeira, como todo jovem da minha geração de mesma mentalidade (e acompanhei MESMO: Natasha... ai Natasha... *suspiro*), mas não a segunda.
Diversos filmes se apropriaram do mito. No cinema mais recente, temos Van Helsing, cuja relação com Drácula reside apenas no nome do personagem, e Dracula, 2000 e 3000 (só vi o primeiro – diversas referências ligadas à White Wolf no que concerne à criação do personagem).
O que nos leva a mais up to date das representações do mito. A série Crepúsculo.
Antes que eu seja trucidado pelos fãs, um informe: deveria ter citado essa obra em fevereiro. É um conto de fadas, ainda que às avessas, da melhor qualidade para leitura despropositada. É leve, dinâmico e agradável. E viciante. Não posso negar.
Mas, se tomarmos por base o desenvolvimento do mito, o demônio que o vampiro representa, os horrores do post mortem sendo manifestados em carne putrefata que ainda vive, a sedução pecaminosa que corrói os sentidos, o arrastar para o inferno de não ter redenção nem neste mundo nem no outro, o que dizer de vampiros cuja virtude é inquestionável? Heróis... from Hell?
É uma humanização do mito que nos aproxima de suas fraquezas, que são elevadas em seu aspecto humano, mas subdesenvolvidas para sua própria natureza; a Fome de um vampiro deveria ser incontrolável, ou mesmo, ao assumir uma nova natureza, o seu passado deixaria de existir como algo vital, ainda que importante. Temos vivenciado isso com nossos heróis em geral – vide Superman, e depois Smallville – mas, com nossos vilões? O maniqueísmo está deixando de existir como uma realidade factual. Algo a se pensar. Is it too ironic… don’t you think?
De qualquer forma, o mito do Vampiro está presente em nosso imaginário contemporâneo de forma indelével, pelo menos para esta geração. E neste sentido, alguns baralhos foram desenvolvidos com o intuito de explorar essa faceta de nossa psique. De maneira geral, vamos trabalhar esse personagem no Diabo, e o cenário na Lua; o temor feito carne no primeiro, o ambiente que gera o temor na segunda.
O Tarot mais direto neste aspecto é o Tarô dos Vampiros, de Robert M Place, o mesmo criador do Tarô dos Santos. Neste, a iconografia explorada remete diretamente aos personagens de Dracula, sem perder de vista os caminhos paralelos que o mito assumiu.
É importante explorarmos, com o devido cuidado, os nossos próprios aspectos sombrios. O mito do conde Drácula é uma das formas de nos depararmos com nossa Fera Interior, em sua faceta mais sombria. Mas não devemos tentar desacompanhados. Como se diz na TV: “Não tentem isso em casa, crianças”!
Boa noite carissimo, sempre gostei de histórias cujo tema fossem os vampiros, por um motivo bem simples: acho que somos assim, seres presos entre a verdade e a mentira, entre a razão e o sentimento, entre o desejo e a repulsa. E para mim eles representam exatamente isso.
ResponderExcluirLeio tudo que posso acerca do tema e cada vez mais percebo que somos vampiros na vida e qdo conseguimos lidar com isso de forma natural, tudo fica mais sólido e menos exagerado. Como a lua negra que nos expõe diante de nós mesmos e nem sempre agrada o que lá está. Bjs carissimo